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“PSB prega socialismo com respeito às minorias”, afirma nova secretária nacional LGBT do partido

Mujeres
Tathiane Araújo e o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira. Foto: Humberto Pradera

Tathiane Araújo é a primeira mulher trans a fazer parte da direção nacional do Partido Socialista Brasileiro. Eleita secretária nacional do segmento LGBT do partido, no último final de semana, Tathiane ocupará um dos 43 assentos na Comissão Executiva Nacional.

À frente da Secretaria, o principal desafio da socialista será sensibilizar deputados federais e senadores para a agenda LGBT e incentivar as gestões do PSB a formularem políticas públicas voltadas para essa parcela da população.

“Precisamos trabalhar cada vez mais para tirar o Brasil da triste realidade de não ter nenhuma lei que garanta os direitos da população LGBT. E também levar boas proposições para as gestões do PSB”, afirma.

Tathiane integra o Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT, órgão colegiado da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e preside a Rede Trans, organização não-governamental que representa pessoas travestis, transexuais e homens trans do Brasil.

Ela defende a aprovação de uma lei que criminalize a homofobia, como uma prioridade na atuação no Congresso Nacional, o que, na sua opinião, seria um passo fundamental para diminuir a impunidade em casos de discriminação contra LGBTs.

“A lei que criminaliza o racismo, por exemplo, é um instrumento para se fazer justiça ao discriminado. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que merece”, afirma Tathiane.

A socialista atribui, em grande parte, a liderança do país em crimes contra LGBTs à ausência de legislação específica. “Talvez este seja o maior responsável pelo fato de o Brasil liderar os casos de assassinatos de LGBT no mundo, e, por isso, é possível dizer que o Congresso tem as mãos um pouco sujas desse sangue”, critica.

Tathiane também é conselheira nacional de Saúde e de Assistência Social e coordena, em Sergipe, a ONG Astra, responsável há 17 anos pela Parada LGBT no estado.

Como é ser a primeira mulher trans que representará a pauta LGBT numa instância superior do partido?

Tem dois vieses nessa questão. O primeiro é ter a responsabilidade de representar a pauta trans, que já é a mais sacrificada em termos de direitos, justamente por que a identidade de gênero é menos compreendida e causa grande exclusão social. Por outro lado, a grande responsabilidade de buscar o respeito e as mesmas conquistas que buscamos na sociedade também no campo partidário. Sou uma trans com experiência em outras instâncias que não tratam só da pauta da identidade de gênero. Sou conselheira nacional LGBT e presido, no meu estado, uma instituição LGBT local. Então tenho uma certa bagagem nessa representação, o que aumenta a minha responsabilidade no campo político partidário, sabendo que o PSB prega um socialismo com respeito às questões das minorias, com a propriedade de reconhecer o seu lugar nessa sociedade, que não é da exclusão, e sim do protagonismo. Isso é uma grande diferença para um partido.

Quais são os principais desafios à frente do segmento LGBT Socialista?

Trabalhar bem o advocacy para sensibilizar os deputados e os senadores do PSB a seguirem a linha de não-discriminação por orientação sexual ou por identidade de gênero e do combate à violência homofóbica e transfóbica, que faz do Brasil o campeão em violência, em assassinatos de LGBTs no mundo. Precisamos incidir cada vez mais para mudar essa triste realidade, que se explica em grande parte por não termos nenhuma lei que garanta os direitos dessa parcela da população. Também no Poder Executivo, os nossos desafios são contribuir para que as gestões do PSB se tornem exemplos de políticas para os LGBTs, levando boas proposições para que os governos socialistas implementem políticas públicas locais que beneficiem e propiciem cidadania a nossa população.

Como você avalia o preconceito contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros no país e o que é preciso fazer para superá-lo?

O preconceito ainda é grande. Há uma grande exclusão, principalmente no campo educacional. O LGBT é excluído em um momento crucial da sua adolescência, no âmbito da capacitação, que é desigual em comparação às pessoas heterossexuais. Há também um grande descompasso no mercado de trabalho, que muitas vezes é perverso e não compreende que a orientação e a identidade de gênero das pessoas em nada influi na sua capacidade de produção. Eu acredito que o Brasil ainda precisa avançar bastante em temos de conscientização. O machismo ainda impera.

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Membros do movimento LGBT do PSB. Foto: Humberto Pradera

Como você avalia o momento atual de extremo conservadorismo no país, seja na política, na cultura, ou em outras áreas?

Eu avalio que este momento que estamos vivenciando na política vem do sensacionalismo, da busca ativa por uma resposta imediata contra a violência, contra a falta de credibilidade na política. Então, as pessoas buscam o extremismo, e muita das vezes, irresponsavelmente, entregam o seu voto a um protesto não-racional. E aí o PSB aponta para um outro lado, para uma política madura, na qual você vê uma mulher trans ocupar um cargo diretivo em uma Executiva Nacional de um partido político de grande história e de grande valor para a política brasileira. A gente tem esperança em atitudes como essa e ações que venham trazer a pluralidade, as discussões e a representatividade de uma nova era, de um novo tempo, tanto na sociedade quanto na política.

O que você achou da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de permitir que candidatos transgêneros e travestis usem o nome social nas urnas e que também seja considerado o gênero e não o sexo biológico para a cota prevista na Lei das Eleições?

O TSE mostrou também avanço ao considerar a realidade onde você vê, a realidade em que o sexo biológico não deve ser imposto, e sim como você se reconhece na sociedade e como a sociedade lhe reconhece. Meu ser político em Aracaju é Tathiane, nunca foi o meu nome de registro, que eu tive a felicidade de alterá-lo em 2014. Mas vivi como fantasma muita das vezes de uma identidade, de um documento que trazia um nome que não condizia com a minha realidade, com a minha representatividade social. Então a sociedade me via como uma mulher Tathiane, e meu documento apresentava um nome que não trazia essa realidade. Eu acredito que essa decisão revela uma maturidade do TSE ao se adequar a uma nova realidade da sociedade.

Qual a sua avaliação sobre a participação de LGBTs na política?

Os partidos precisam dar mais apoio às pessoas LGBTs. Nós também precisamos qualificar mais o discurso justamente nos segmentos, na atuação dos nossos secretários nos estados. Precisamos fazer do PSB referência na qualificação de candidaturas LGBTs. Temos exemplos de pessoas trans e de gays. No nosso partido mesmo temos o Maurício, no Mato Grosso. Ele é um dos que mais se destaca com propostas apresentadas na Câmara de sua cidade, mostrando que LGBT não discute só a ‘caixinha LGBT’, só para a população LGBT, não. Mauricio faz um trabalho excelente e vasto na questão social do Mato Grosso. Fora outros exemplos no Brasil que nos fazem pensar na hora de, talvez, ter uma mulher trans, uma mulher lésbica, uma cidadão bissexual, assumidamente, discutindo e sendo referência nessa pauta na Câmara Federal. O PSB matura para essa realidade.

Qual a pauta prioritária LGBT no Congresso Nacional?

A criminalização da homofobia, com certeza, pela simbologia e pressão que isso fará contra a violência praticada contra LGBTs. A lei que criminaliza o racismo, por exemplo, é um instrumento para se fazer justiça ao discriminado. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que merece. Então seria um grande passo pois talvez a ausência de uma lei que criminaliza a homofobia seja o maior responsável pelo fato de o Brasil liderar os casos de assassinatos de LGBTs no mundo. E aí dá pra dizer que o Congresso tem as mãos um pouco sujas desse sangue.

Assessoria de Comunicação/PSB Nacional

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