Para economista, desigualdade no Brasil é escolha política
NoticiasUm sistema que cobra tributos elevados dos mais pobres e a ausência de uma reforma agrária são, na opinião do economista irlandês Marc Morgan Milá, dois fatores ilustrativos de que houve uma «escolha política pela desigualdade» na história do Brasil.
«O conflito distributivo vem de longa data, o país foi o último do Ocidente a abolir a escravidão. Outra explicação para o nível alto de desigualdade está na natureza do Estado: grande, historicamente. Isso não é necessariamente ruim, mas sim a forma como ele se organiza e transfere recursos», explicou Milá, em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo.
Diante das medidas de ajuste fiscal do atual governo, com a contenção dos gastos públicos por até 20 anos, a opinião de Milá é que isso afetará especialmente os mais pobres, que mais dependem dessas despesas, e aumentará a desigualdade no país.
«Políticas de austeridade costumam afetar mais os pobres. É plausível pensar que os níveis de desigualdade vão parar de melhorar nos próximos anos se essas políticas forem implementadas», apontou.
Milá criticou que as alíquotas de impostos sobre herança no Brasil sejam de apenas 2% a 4%, enquanto, em outros países chega a 30%. Além disso, a tributação de fortunas fica em torno de 5%. «Enquanto isso, os mais pobres pagam ao menos 30% de sua renda via impostos indiretos sobre luz e alimentação».
O economista destaca que os programas de redistribuição de renda chegam aos mais pobres, porém os benefícios são pequenos devido à tributação alta e desigual no país. «Tributação mais justa é muito mais importante do que transferências de renda e algo que todos os governos brasileiros nas últimas décadas falharam em fazer», disse, por não enfrentarem o problema e evitarem políticas que poderiam limitar a renda dos mais ricos.
Ele ressalta que a concentração do capital é muito alta no Brasil e gera uma «discrepância muito grande». Como ele informou na entrevista, o grupo dos 1% mais ricos tem cerca de 1,4 milhão de pessoas, com renda anual a partir de R$ 287 mil. Cerca de 140 mil pessoas (0,1%) tem renda mínima de R$ 1,4 milhão. Enquanto a renda média anual de toda a população é de R$ 35 mil.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional com informações da Folha de S. Paulo