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Ex-presidente boliviano Evo Morales convoca uma campanha global para acabar com a OTAN

Bolivia

Em entrevista, Morales diz que os Estados Unidos utilizam a OTAN para provocar guerras e vender armamentos

Em entrevista ao jornalista britânico Matt Kennard concedida em sua casa na pequena cidade de El Trópico, a quatro horas de Cochabamba, no coração da Floresta Amazônica, o ex-presidente boliviano Evo Morales (2006-2019) convocou uma campanha global para acabar com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Segundo Morales, essa campanha deveria explicar às pessoas em todo o mundo que “a OTAN é, basicamente, os Estados Unidos. Esta organização não é uma garantia para a humanidade ou a vida. Eu não aceito – na verdade, eu condeno – como eles podem excluir a Rússia do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Quando os EUA intervieram no Iraque, na Líbia, em tantos países nos últimos anos, por que eles não foram expulsos do Conselho de Direitos Humanos? Por que isso nunca foi questionado?”.

Morales continua: “Nós [no Movimiento al Socialismo, também conhecido pela sigla MAS] temos profundas diferenças ideológicas com as políticas implementadas pelos EUA por meio da OTAN, políticas estas que se baseiam em intervencionismo e militarismo. Rússia e Ucrânia querem chegar a um acordo, mas [os Estados Unidos] continuam provocando a guerra, [assim como a] indústria militar estadunidense, que sobrevive graças à guerra. Eles provocam guerras para vender armamentos. Esta é a outra realidade na qual vivemos”.

Golpe contra modelo econômico alternativo

Morales é um dos mais bem-sucedidos presidentes na história da América Latina. Ele fechou uma base militar estadunidense na Bolívia, expulsou do país a CIA e o DEA [Drug Enforcement Administration, agência antidrogas dos EUA] e ajudou a reverter quinhentos anos de história colonial por meio de ações para industrializar a economia boliviana.

Em novembro de 2019, Morales foi derrubado do poder por um golpe apoiado pelos EUA e Reino Unido que culminou com o massacre, pelo exército, de protestantes antigolpe. Morales sobreviveu a uma tentativa de assassinato apenas porque o presidente do México, Andrés López Obrador, enviou um avião para resgatá-lo.

A beneficiária deste golpe, Jeanine Áñez, conservadora cristã que perdeu as eleições presidenciais de outubro de 2020 para Luis Arce (MAS, mesmo partido de Morales), foi sentenciada a 10 anos de prisão em junho deste ano depois de condenada por terrorismo e sedição.
Morales, que retornou à Bolívia após a vitória de Arce no pleito de outubro de 2020, acredita que o golpe foi motivado por suas medidas para nacionalizar as reservas bolivianas de petróleo e gás natural.

O ex-presidente disse a Matt Kennard que continua “convencido de que o império, capitalismo e imperialismo não aceitam que haja um modelo econômico que seja melhor do que o neoliberalismo. O golpe foi contra nosso modelo econômico… Nós mostramos que outra Bolívia é possível”.

“Tudo pelo lítio”

Em 2021, o Ministério das Relações Exteriores Britânico divulgou documentos que provaram que, no mês seguinte à saída de Morales do país devido ao golpe, a embaixada do Reino Unido na Bolívia pagou a uma companhia sediada em Oxford para otimizar a “exploração” dos depósitos de lítio bolivianos.

Os documentos também mostraram que a embaixada britânica em La Paz atuou como “parceira estratégica” do governo golpista de Áñez, além de ter organizado um evento internacional de mineração na Bolívia quatro meses após a democracia ter sido derrubada no país andino.

A Bolívia possui a segunda maior reserva de lítio do mundo. O lítio é um metal usado na fabricação de baterias, que tem sido cada vez mais cobiçado em razão da crescente indústria de carros elétricos.

Sob a tradicional dinâmica imperial que mantinha a Bolívia pobre, os países ricos extraíam matérias-primas, as enviavam para a Europa para serem transformadas em produtos e então as vendiam de volta aos países do Terceiro Mundo, como a Bolívia, na forma de produtos acabados e com margem de lucro.

Com os depósitos de lítio bolivianos, Morales foi irredutível quanto ao fim do sistema acima descrito. A Bolívia não apenas extrairia o lítio, como também produziria as baterias. Ele disse a Kennard que:
“Começamos com um laboratório que, obviamente, tinha especialistas estrangeiros que nós contratamos. Depois nós instalamos uma planta piloto. Investimos por volta de 20 milhões de dólares, e ela já está em operação. Todos os anos, ela produz cerca de 200 toneladas de carbonato e baterias de lítio em Potosí [capital do antigo império espanhol onde este empreendeu a mineração de prata nos séculos XVII, XVIII e início do XIX].

Morales complementa: “Tínhamos planos de instalar 42 novas plantas de lítio até 2029. Os lucros estimados eram da ordem de cinco bilhões de dólares. Lucros! Foi aí que veio o golpe. Os EUA disseram que a presença da China não é permitida, mas… ter um mercado na China é muito importante. Também é importante estabelecer um mercado de lítio com a Alemanha. O próximo passo era com a Rússia, mas aí veio o golpe. Somente no ano passado é que descobrimos que a Inglaterra também havia participado do golpe – tudo por lítio”.

Mentalidade colonial

Quando Kennard disse a Morales que o Ministério das Relações Exteriores Britânico negou que tenha havido um golpe na Bolívia, o ex-presidente respondeu que isso é algo difícil de compreender e refletiu sobre “uma mentalidade totalmente colonial. Eles acham que alguns países são propriedades de suas nações. Acham que Deus os colocou lá e que, portanto, o mundo pertence aos Estados Unidos e Reino Unido. É por isso que as rebeliões e revoltas continuarão”.

Com o povo ou com o império do mal?

Morales tem grande admiração por Julian Assange, cuja prisão, ele afirma, “representa uma intensificação, uma intimidação para que todos os crimes contra a humanidade cometidos por diferentes governos dos Estados Unidos nunca sejam revelados. Todas as muitas intervenções, invasões e pilhagens [não venham à tona]”.

Atualmente, Morales está trabalhando na construção de uma mídia independente na Bolívia, onde ele afirma que boa parte dos veículos de imprensa “pertencem ao império ou à direita”.

Otimista quanto às recentes vitórias de forças políticas da esquerda no Peru, Chile e Colômbia, além do provável retorno de Lula à presidência do Brasil, Morales disse a Kennard que “na política, devemos nos perguntar: Estamos com o povo ou com o império? Se estamos com o povo, nós fazemos um país; se estamos com o império, nós fazemos dinheiro. Se estamos com o povo, então lutamos pela vida e humanidade; se estamos com o império, então estamos com a política de morte, com a cultura de morte, intervenções e pilhagem do povo. Isso é o que perguntamos a nós mesmos enquanto seres humanos, enquanto líderes: ‘Estamos a serviço do povo?”.

Traduzido por: Ana Paula Rocha

BRASIL DE FATO

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