Socialista é homenageado em desfile no Carnaval do Rio de Janeiro
NoticiasA escola de samba Unidos de Vila Isabel abriu nesta segunda-feira (8) o segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro mostrando a trajetória política do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes e suas realizações nas áreas da educação e da cultura popular.
Com o enredo «Memórias do Pai Arraia – Um Sonho Pernambucano, um Legado Brasileiro», a escola da zona norte carioca iniciou o desfile em tons bege e cru para representar as agruras da seca no nordeste que marcaram a infância e juventude de Arraes e o inspiraram em sua trajetória política. Cearense, Arraes governou Pernambuco por três vezes, em uma delas, deposto pelo golpe militar de 1964, quando foi preso e obrigado a se exilar na Argélia.
Ao todo, 3.800 componentes e seis carros alegóricos levaram à Sapucaí as memórias de «Pai Arraia», como era chamado pelo povo mais humilde. De autoria de Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Mart’nália, André Diniz e Leonel, o samba-enredo é uma homenagem ao centenário do político.
Pela pista da Sapucaí passaram Ana Arraes, ministra do TCU (Tribunal de Contas da União), o diretor de televisão Guel Arraes e o sociólogo José Almino de Alencar, filhos do ex-governador, e o escritor e advogado Antônio Campos, neto de Miguel Arraes. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, acompanhou o desfile.
Com um cortejo fúnebre, a comissão de frente apresentou o sofrimento do nordestino e lembrou a seca de 1932. O carro abre-alas “Miragens do Sertão”, além de fantasias mostrando xiquexiques e mandacarus, representou o cenário de aridez do sertão pernambucano.
O refrão – “Vem dançar o frevo e a ciranda/Silenciar jamais/Tem maracatu na batucada/O galo da madrugada/Misturando carnavais” – emocionou o público das arquibancadas e os integrantes da escola.
O chamado Acordo do Campo, que obrigou usineiros e donos de engenho a pagarem o salário mínimo aos trabalhadores rurais, foi retratado na ala das baianas e nos carros alegóricos em uma crítica à exploração dos trabalhadores pelos latifundiários.
Emocionado, Martinho da Vila justificou a escolha do tema. «É obrigação da escola de samba trazer uma mensagem, apresentar uma proposta, fazer a crítica social», disse o presidente de honra e símbolo maior da escola.
A Vila Isabel tem uma longa tradição de enredos com conteúdo político. Em 1988, levou o título de campeã exaltando a luta do negro pela liberdade com o antológico «Kizomba, a Festa da Raça», celebrou a Declaração Universal dos Direitos do Homem e abordou a reforma agrária. «Falamos de um fantástico trabalho de educação e valorização da cultura popular implantado por Arraes em Pernambuco, nos anos 1960, mas que infelizmente foi abortado pela ditadura militar», afirmou o carnavalesco Alex de Souza.
As cores mais vivas foram colorindo aos poucos a avenida para simbolizar a retomada da esperança do povo. O Movimento de Cultura Popular, colocado em prática no Recife na gestão de Arraes, empreendeu um projeto de alfabetização e inserção da população mais humilde na arte.
Participantes do inovador projeto de Arraes, intelectuais como Paulo Freire e Ariano Suassuna, autor do Auto da Compadecida, e J. Borges, xilogravurista da literatura de cordel, foram homenageados com alegorias caracterizadas por elementos da educação, do teatro dos mamulengos, trovadores e repentistas.
O desfile foi encerrado com folguedos, danças e festas típicas de Pernambuco, um gigantesco Galo da Madrugada, símbolo do maior bloco carnavalesco do mundo, além dos tradicionais bonecos de Olinda e fantasias de bloco de rua, simbolizando uma mistura dos carnavais carioca e pernambucano.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional