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O que as empresas precisam fazer para garantir a presença e a permanência de pessoas trans em suas equipes

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A tendência é mundial. Cada vez mais corporações passam a entender a diversidade como capital , capaz de enriquecer e trazer novas soluções para as empresas, seus serviços e produtos. Mas esse movimento abarca todas as letras dentro da sigla LGBT? Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), não.

A ONU reconhece que a última década trouxe avanços, mas considera as iniciativas de inclusão ainda escassas e incapazes de contemplar toda a população LGBTI+ . A mais vulnerável ainda é a população trans , que encara uma série de obstáculos para chegar e, depois, para se manter dentro do mercado de trabalho formal.

Não há um dado oficial, mas um levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) estima que apenas 4% das mulheres travestis e transexuais têm empregos formais com fluxo de carreira. Ainda segundo a pesquisa, 90% delas estão na prostituição.

Essas mulheres vivenciam uma sequência de exclusões ao longo da vida, afirma a advogada e administradora Giowana Cambrone. Na infância e na adolescência, há uma ruptura de laços familiares e afetivos, quando muitas são expulsas de casa. O processo pedagógico dentro da escola também não as acolhe, elas não conseguem ter formação profissional e acabam tendo a prostituição como algo compulsório, explica.

Giowana presta consultoria sobre diversidade sexual para empresas e, informalmente, tem feito a ponte entre as que estão buscando profissionais transgênero para compor seus times e as pessoas trans que têm interesse em uma vaga no mercado formal.

— Por ser uma mulher trans e por entender que essa é a população mais vulnerabilizada da sopa de letrinhas do movimento LGBT, eu falo muito dessa realidade. As empresas têm se sensibilizado. Há uma tendência mundial das corporações, entendendo a diversidade como um capital, que enriquece e traz novas soluções. Nesse caminho, elas têm percebido que podem contratar pessoas trans.

Foi através dela que Manuela Menandro ficou sabendo de uma vaga de auxiliar de produção na Bayer, se inscreveu e, aos 27 anos, conseguiu o seu primeiro emprego de carteira assinada. Ela é uma das duas primeiras mulheres trans a serem contratadas para atuar na linha de produção da fábrica da empresa em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Até começar na Bayer, Manuela vivia de frilas e bicos como produtora cultural, mas as contas nem sempre fechavam no final do mês. Quando a oportunidade de uma vaga formal surgiu, ela decidiu se candidatar. Mas o fez porque sabia que tinha chance, pois a empresa se anunciava disposta a contratar pessoas transgênero. Ela diz já ter perdido a conta de quantos currículos enviou sem nunca receber resposta.

Há um mês na empresa, ela trabalha em um ambiente quase exclusivamente masculino e conta que temia sofrer, além do machismo, muita transfobia. Porém, se surpreendeu com uma recepção positiva de toda a equipe.

— Nos primeiros dias, fiquei muito nervosa. É um trabalho cansativo, demanda força e rapidez. Achei que ia sofrer muita transfobia, para além do machismo. É um meio extremamente masculino e branco. Mas, por incrível que pareça, estou tendo uma recepção positiva — conta a auxiliar de produção. — A importância para mim é a oportunidade da inclusão. São pessoas que nunca tiveram a oportunidade de lidar com uma pessoa trans, não conheciam ninguém. Acho que esse contato é muito positivo — completa.

— Por ser algo novo, um tema e uma população tão envolvida em tantos tabus, que você tem medo do que falar, do que fazer, como ser chamada ou chamado, qual banheiro usar, a instituição precisa fazer uma sensibilização dos outros colaboradores para evitar que essas pessoas passem por qualquer situação vexatória — afirma Cambrone.

Nesse sentido, antes de receber as novas funcionárias, a empresa fez uma espécie de treinamento com toda a equipe, explica Aline Félix, especialista em Diversidade e Inclusão da Bayer.

— Treinamos os líderes e as equipes para receberem elas. Esse treinamento envolve desde explicar o básico, como o que é identidade de gênero e orientação sexual, explicar quem são essas pessoas. É um processo educativo para que elas sejam incluídas e respeitadas — afirma.

— Eu tenho que garantir que as pessoas tenham a primeira experiência de integração muito positiva. E, depois, tenho que monitorar o que realmente está acontecendo, mas isso tem que ser tratado da forma mais natural possível, para que a pessoa não se sinta objeto de estudo. Quando a gente percebe que a inclusão está acontecendo, saímos de cena. Mas há um grupo de afinidade que fica à disposição para qualquer problema — completa a diretora de Inclusão e Diversidade da empresa, Aline Cintra.

A previsão é que outras quatro mulheres trans entrem na equipe de Belford Roxo em breve, conta Aline. Atualmente, a Bayer tem, ao todo, cerca de dez funcionários transgênero e mantém oito comitês de diversidade, um para cada unidade da empresa no país.

‘Se a cultura não for inclusiva, a diversidade é expulsa ou pede pra sair’

Além da sensibilização, a contratação de pessoas trans exige também um acompanhamento constante e uma transformação cultural da empresa, afirma Maite Schneider, co-fundadora da TransEmpregos, agência que reúne currículos de profissionais transgênero e divulga vagas inclusivas por todo o Brasil.

— As ações afirmativas têm que ter um acompanhamento constante e é preciso tornar efetivamente a cultura da empresa mais inclusiva. Se você enfiar diversidade e a cultura da empresa não for inclusiva, a diversidade é expulsa ou pede para sair — afirma.

Aline Cintra, da Bayer, reforça o coro:

— A inclusão tem que ser uma postura que a empresa tem como cultura, de não admitir comportamentos preconceituosos. É preciso ter isso como um valor da organização. Tem situações em que não dá mais para ser tolerante.

A TransEmpregos mantém convênio com 347 empresas atualmente. A maior parte são multinacionais, mas cresce a procura por profissionais trans nas médias e pequenas empresas, startups e fintechs, conta Maitê. Ela revela que até mesmo ramos tidos como conservadores, como instituições financeiras, seguradoras e escritórios de advocacia têm demonstrado abertura para a inclusão de pessoas transgênero em suas equipes.

Processo seletivo precisa ser inclusivo

A co-fundadora da TransEmpregos explica que o foco não são vagas exclusivas para pessoas trans, mas inclusivas, para que elas possam ser analisadas pelo RH das empresas sem sofrer preconceitos e discriminações por conta de sua identidade de gênero . A iniciativa funciona como uma ponte, para que profissionais e empresas se conectem.

Foi por meio de um convênio firmado com a TransEmpregos no ano passado que a Ecopistas, concessionária que administra rodovias no estado de São Paulo, passou a receber mais currículos de candidatos transgênero. Também em 2018 foi criado um comitê de diversidade no Grupo EcoRodovias, que controla a empresa. Antes disso, os currículos destes profissionais dificilmente apareciam nos processos seletivos.

— Existe uma dificuldade de encontrar pessoas trans qualificadas para ocupar determinadas vagas, em função de toda a exclusão vivenciada por essas pessoas ao longo da vida. Às vezes, elas nem se candidatam a uma vaga, pois se sentem constrangidas porque não tem nome retificado nos documentos. O processo seletivo pode ser algo meio traumático. Então é importante que as empresas apontem essa receptividade ao divulgar as suas vagas — afirma a advogada Giowana Cambrone.

Ela ressalta que, embora as iniciativas de inclusão ganhem cada vez mais força, elas ainda são tímidas e muitas vezes restritas a vagas com salários mais baixos.

‘Capacidade profissional não tem gênero’

No ano passado, três profissionais trans foram contratadas pela EcoPistas. Entre elas, está Priscylla de Moura, que retornou ao mercado formal de trabalho depois de mais de duas décadas, aos 49 anos. Desde agosto, ela atua como operadora de pedágio no trecho da rodovia Ayrton Senna que é administrado pela concessionária.

Priscylla conta que teve alguns empregos com carteira assinada antes de passar por seu processo de transição. Mas, como não podia expressar sua real identidade no ambiente profissional, saiu do mercado formal e, como acontece com muitas mulheres transexuais e travestis, encontrou na prostituição uma forma de ganhar a vida.

— Eu poderia fazer uma série de coisas melhor no trabalho se pudesse ser eu mesma. Depois de um tempo, cansei de ficar fingindo. Aí fui para a noite — afirma.

No ano passado, com o apoio da Subsecretaria de Políticas da Diversidade da Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, conseguiu fazer a prova para obter o certificado de conclusão do ensino médio, que não pode terminar na juventude, e fez a retificação dos seus documentos de identificação. Na sequência, conseguiu o novo emprego. Ela conta que a ausência do diploma e a documentação antiga eram alguns dos fatores que a mantinham fora do mercado formal, o primeiro por ser uma exigência comum das empresas; o segundo porque temia passar por algum constrangimento por não ter o RG com o nome retificado.

— Estava buscando uma estabilidade financeira, previdência.Todos esses aspectos contam para minha felicidade. É um emprego modesto, mas ele me traz esses benefícios.

Ela comemora a recepção que tem tido no seu retorno ao mercado formal, depois de mais de 20 anos. Segundo a Ecopistas, houve sensibilização dos colaboradores para o assunto e treinamento para as equipes de recrutamento e seleção.

— Acredito que tudo está mudando para melhor. Ainda é difícil para nós, muitas ainda são marginalizadas, mas melhorou muito. A empresa me deu a oportunidade de mostrar para mim mesma que eu sou capaz. A capacidade profissional de uma pessoa não está no seu gênero — completa.

 

O Globo

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