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Com pandemia em estágio crítico, Argentina luta para evitar colapso do sistema sanitário

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Coronavirus argentinaUma atualização recente do Ranking de Resiliência da Covid-19, feito pela agência Bloomberg, colocou a Argentina como o terceiro pior país do mundo em matéria de combate à pandemia —melhor apenas que Polônia e Brasil numa lista de 53 nações. O país que no primeiro semestre de 2020 foi considerado um exemplo a seguir agora luta para evitar o colapso de seu sistema sanitário sem impor uma nova quarentena. Especialistas locais ouvidos pelo GLOBO relataram filas de espera em hospitais, escassez temporária de oxigênio, pacientes em corredores e médicos intensivistas em estado de exaustão, além de mal pagos.

Como se não bastassem as crises sanitária e econômica, o governo do presidente Alberto Fernández deve lidar, ainda, com tensões políticas dentro e fora de sua coalizão de governo. Em meio a fortes pressões do kirchnerismo para que seja implementada uma quarentena rígida, nos moldes da adotada em março de 2020, na sexta-feira o chefe de Estado optou por prorrogar medidas restritivas anunciadas no começo de abril, entre elas o toque de recolher das 20h às 6h. O país será, a partir de agora, dividido em quatro zonas, de acordo com a situação epidemiológica. Atualmente, a Área Metropolitana de Buenos Aires (Amba) está em alerta máximo e, portanto, será mantido o funcionamento virtual das escolas; shoppings e restaurantes deverão fechar às 19h.

Segundo fontes do governo, um retorno à chamada fase 1 da quarentena é a carta na manga que Fernández continuará guardando, em caso de colapso total. Hoje, a média móvel de novos casos diários está em torno de 23 mil, um aumento de 53% em relação ao pico da primeira onda, em outubro do ano passado, quando chegou a 14.941. A média móvel de mortes por dia, de mais de 400, ainda é inferior ao pico de 770, mas muito maior do que as 107 registradas no final de dezembro.

— Nunca estivemos tão perto do colapso. Pela primeira vez, vemos pacientes nos corredores por falta de espaço — conta David Barbieri, membro do Sindicato de Médicos Intensivistas (Simira).

O sindicato recebe informações de todo o país e já constatou a falta temporária de oxigênio em alguns hospitais particulares da província de Buenos Aires. Num país que vem tendo inflação média de 4% por mês, o governo interveio no mercado de oxigênio para proibir o reajuste do produto por 90 dias. A escassez de medicamentos é outro dos fantasmas. De acordo com Barbieri, alguns remédios sofreram reajuste de até 1.200% durante a pandemia.

— As medidas adotadas nos deram tempo para aumentar o número de leitos, mas os profissionais da saúde estão sobrecarregados, e muitos fazendo trabalhos para os quais não têm experiência — lamenta o médico intensivista.

Hoje, sua especialidade ganha entre 400 e 500 pesos (entre US$ 4,30 e US$ 5,30) por hora, renda similar à de um trabalhador não especializado.

Enquanto médicos como Barbieri atuam numa linha de frente cada vez mais exigida, a realidade fora dos hospitais é de cansaço extremo da população, violações permanentes das medidas de distanciamento social — festas clandestinas ocorrem todos os dias — e disputas políticas que desgastam a autoridade dos governos federal e regionais.

Se na coalizão de governo entre peronistas e kirchneristas a queda de braço é para ver quem enfrenta a pandemia com maior rigidez, na aliança opositora Juntos pela Mudança, liderada cada vez com menos consenso pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), as atitudes negacionistas se multiplicam. A ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich é uma das representantes destacadas da oposição negacionista, chegando a recorrer à Justiça para derrubar decretos presidenciais sobre distanciamento social. Em entrevista a um canal de TV local em 21 de abril, a ex-ministra afirmou que “o Brasil já saiu da crise porque está vacinando um milhão de pessoas por dia”. Não por acaso, ela é chamada de Bolsonaro argentina.

O debate também é grande dentro da oposição, e as divergências têm atrapalhado a rotina do chefe de governo da cidade de Buenos Aires, o opositor Horacio Rodríguez Larreta. Acuado internamente, o prefeito optou por não cumprir à risca as diretrizes do governo nacional, especialmente no que diz respeito ao funcionamento das escolas, que continuam abertas apesar de a ocupação de leitos de UTI na cidade estar em torno de 90%. Imagens de crianças em manifestações contra o fechamento de escolas refletiram o clima de irritação social que move a oposição argentina, de olho nas eleições legislativas de outubro.

Especialistas que assessoram governos aliados a Fernández reconhecem que o colapso ainda é um cenário possível e apelam para a necessidade de consciência social sobre a gravidade da situação.

— Nós defendemos uma volta à fase 1, mas acreditamos que a divisão do país em zonas de risco vai ajudar muito. O pior ainda está por vir — afirma o médico sanitarista Jorge Rachid, assessor do governo da província de Buenos Aires.

Ele assegura que hospitais públicos da província de Buenos Aires estão recebendo pacientes da capital que têm planos de saúde particulares.

— Enquanto mantivemos um nível de 4 mil contágios diários, era controlável. Agora estamos entre 25 e 30 mil casos por dia, e a variante de Manaus ainda não é dominante, mas está se espalhando — acrescenta.

O assessor reconhece que a vacinação está em ritmo lento e foi prejudicada por atrasos na produção de doses da vacina da AstraZeneza, produzida em parceria com o México. As dificuldades surgiram pela demora dos EUA em exportarem para o México os insumos necessários para envasar a vacina. Até agora, foram vacinados todos os idosos acima de 70 anos. Até sexta, foram vacinados com ao menos uma dose 15% da população — no Brasil, a taxa era de 13,5%.

Para o epidemiologista Hugo Pizzi, “a Argentina enfrenta hoje desafios muito mais difíceis do que os de 2020”.

— Se no ano passado não conseguimos dominar a pandemia, imagine agora, com as novas variantes já circulando. Temos nossos CTIs cheios de jovens, porque 35% da população argentina não colaboram — indica Pizzi.

O especialista, que esteve na África trabalhando no combate à epidemia do Ebola, acredita que a única coisa que pode evitar o colapso do sistema sanitário é uma onda de reflexão entre os mais jovens.

— Já temos filas de espera em hospitais. Não chegamos ao ponto de situações como a do Paraguai, onde soube de pessoas que doaram sofás para pacientes sem leito, mas já temos pacientes em macas nos corredores — afirma Pizzi.

O panorama traçado pelo epidemiologista foi confirmado por Hector Garin, secretário geral da Associação de Médicos do Setor Privado da capital. Segundo seus dados, a taxa de ocupação dos leitos de CTI na cidade está entre 90% e 95%.

— Algumas clínicas relatam dificuldades para conseguir insumos médicos, inclusive oxigênio. As listas de espera já são uma realidade. Nos preocupa o fracasso das instituições que administram a pandemia, dos partidos políticos, a falta de consenso sobre uma situação tão grave — desabafou Garin.

Alguns dos especialistas consultados alertaram que os contágios e óbitos podem aumentar em maio e que, caso a curva não consiga ser contida, a chegada do inverno, em junho, agravará o cenário argentino.

 

O Globo/Janaína Figueiredo

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