Há 44 anos, golpe militar derrubava governo constitucional de Salvador Allende no Chile
NoticiasNo dia 11 de setembro de 1973, há exatos 44 anos, um golpe de estado comandado pelo general do Exército Augusto Pinochet interrompeu o governo constitucional do então presidente Salvador Allende, eleito pelo voto direto dos chilenos.
Nesta segunda-feira, a memória de Allende foi celebrada em uma cerimônia no Palácio La Moneda, com a presença da presidente Michelle Bachelet, a senadora Isabel Allende, filha do ex-presidente, a deputada Maya Fernandez, neta de Allende, integrantes do Partido Socialista e autoridades do país.
Durante a celebração, Bachelet anunciou que dará urgência à tramitação de uma lei que permite retirar o sigilo dos depoimentos apresentados antes da Comissão Valech, constituída no governo de Ricardo Lagos (2000-2006), que documentou as torturas sofridas por milhares de chilenos durante a ditadura e estabeleceu 50 anos de segredo sobre seu conteúdo. Isso impediu as vítimas de contribuírem com informações antecedentes quando recorrem à justiça em busca de alguma reparação do Estado pelo dano sofrido.
«O conhecimento da verdade é anterior a qualquer outro processo para o reencontro de uma pátria ainda fraturada. Esta semana vamos adotar uma discussão imediata sobre o projeto que levanta o sigilo das informações fornecidas à Comissão Valech, para que essa informação possa ser submetida aos tribunais, para avançar nos processos», disse Bachelet.
Para a presidente socialista, a urgência do projeto permitirá «avançar em processos que podem estar parados e contribuir concretamente para a verdade, a justiça e reparação» para as vítimas e seus familiares.
No último domingo (10), cerca de 5 mil pessoas saíram às ruas de Santiago para recordar as vítimas da ditadura de Pinochet e pedir que a busca da verdade e justiça seja mais célere. Ativistas de direitos humanos e familiares caminharam até o Cemitério Geral da capital chilena, onde se encontram os restos mortais de Allende. Eles empunhavam retratos de detidos e desaparecidos durante o regime ditatorial e bandeiras com slogans contra a impunidade dos repressores.
A senadora Isabel Allende afirmou em um texto publicado em seu site que seu pai era um «lutador social». Ela disse que se comove ao ouvir as pessoas dizerem que Allende foi «o melhor presidente que tivemos, que se preocupava e cuidava de nós, os pobres». «O presidente Allende é uma referência universal e é um orgulho que muitos jovens o considerem um símbolo de consequência, lealdade e ética», escreveu.
Isabel destaca que Salvador Allende deixou muitos legados, entre eles, que a democracia rege a ação política, que as profundas mudanças sociais são feitas com o apoio da maioria e que o desenvolvimento econômico não pode ser feito atentando contra a liberdade. «Por isso é tão importante o que ele dizia, que acreditava em um socialismo na democracia, com pluralismo e liberdade».
Para a senadora, a referência de Allende ao longo de todos esses anos é de «um homem que nos ensinou a sonhar com um país cujas riquezas básicas foram para o conjunto dos cidadãos e, sobretudo, para o bem-estar dos que mais necessitavam», destaca.
O golpe de Pinochet e a morte de Allende
Era manhã de 11 de setembro de 1973 e o presidente Salvador Allende foi acordado, em sua casa, por um telefonema que informava a rebeldia e ocupação da cidade portuária de Valparaíso pelos fuzileiros da Marinha. Na tentativa de resistir ao golpe, Allende se dirigiu às pressas ao Palácio de La Moneda. Ele recebeu uma mensagem de Augusto Pinochet, que até então lhe era leal e havia sido nomeado como chefe do Exército apenas três semanas antes, com intimidação para que renunciasse e com a garantia de que um avião particular levaria o presidente e sua família até um país de sua escolha. Anos depois, foram descobertas gravações que mostram que o plano de Pinochet era derrubar o avião em pleno voo.
O socialista se recusou a renunciar e resistiu até o fim com sua guarda e colaboradores.
Em seu último discurso, às 10h10, transmitido pela rádio Magallanes (última estação pró-governo que ainda não havia sido destruída pelos militares), Allende rechaça a renúncia, agradece e se despede do povo chileno. “Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado em uma transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E vos digo que tenho a certeza de que a semente que entregaremos à consciência de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente. […] Trabalhadores de minha Pátria, quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez. […] Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens esse momento cinza e amargo, onde a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, se abrirão de novo as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. […] Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição”.
Aviões começaram a bombardear o Palácio de La Moneda pouco antes do meio-dia e, com a tomada de poder pelos militares em todo o país, o presidente determinou àqueles que ainda resistiam na sede do governo que se rendessem e evacuassem o prédio. Os militares então invadiram o local e dois tiros foram ouvidos. Allende foi encontrado morto em seu gabinete. A partir disso, estava encerrado o primeiro governo eleito pelo voto direto e a única tentativa deste implantar o socialismo em um país do continente latino-americano.
O Chile passou a ser comandado por um regime ditatorial que deixou 3200 mortos, 1192 pessoas ainda constam como desaparecidas, outras 33 mil foram torturadas e presas, e mais 300 mil foram exiladas, segundo números oficiais.
Salvador Allende foi enterrado numa cova comum. Somente após o término da ditadura de Pinochet é que recebeu um funeral com honras militares, em 1990, no Cemitério Geral de Santiago.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional e CSL